Familiares, políticos
e pernambucanos se despedem de Campos
O
ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos,
foi enterrado na tarde deste domingo, no cemitério de Santo Amaro, em Recife,
após um dia de velório e homenagens na cidade.
Campos
morreu em um acidente aéreo em Santos (SP), na quarta-feira.
Mais
de 160 mil pessoas, segundo a PM, se aglomeraram nos arredores do Palácio Campo
das Princesas, sede do governo pernambucano, onde o corpo foi velado desde a
madrugada.
De
lá, o caixão foi levado em carro de bombeiros até o cemitério.
Entre
os presentes no velório estiveram Marina Silva, vice na chapa de Campos e que
deve se tornar a candidata do PSB à Presidência, a presidente Dilma Rousseff
(PT), que concorre à reeleição, e Aécio Neves (PSDB), também candidato.
Também
acompanharam o velório o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os
governadores de Pernambuco, José Lyra, de São Paulo, Geraldo Alckmim, de
Alagoas, Teotônio Vilela, do Espírito Santo, Renato Casagrande, do Distrito
Federal, Agnelo Queiroz, entre outras autoridades, como ministros, prefeitos,
embaixadores e empresários.
A
mulher de Campos, Renata, a mãe dele, Ana Arraes (ministra do Tribunal de
Contas da União) e os filhos do presidenciável ficaram todo o tempo ao lado do
caixão, no velório e no carro de bombeiros.
Dilma
foi vaiada por um grupo ao aparecer no telão - depois disso, outro grupo puxou
aplausos.
"Está
morto um homem que tem as suas convicções vivas", disse o arcesbispo de
Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, durante a missa. "Sentíamos nele,
acima do gestor, um ser humano apaixonado pelo povo, especialmente pelos mais
empobrecidos", afirmou.
Ao
final da cerimônia, houve muitos aplausos e o público gritou "Eduardo,
guerreiro, do povo brasileiro" - os filhos de Campos cantaram junto.
Também
foram velados neste domingo em Recife os corpos do jornalista Carlos Percol e
do fotógrafo Alexandre Severo, mortos no mesmo acidente.
Candidatura
Campos,
que governou Pernambuco entre 2006 e 2014 - quando deixou o governo para
concorrer à Presidência - foi enterrado ao lado do túmulo de seu avô, o
ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005).
O
PSB tem até o final desta semana para apresentar um nome para substituir
Campos. Na sexta-feira, a ex-senadora Marina Silva foi consultada de forma
preliminar pelo PSB e, segundo a sigla, aceitou concorrer à Presidência no
lugar de Campos. Ela recebeu também o apoio explícito da família dele.
O
PSB realizará uma reunião de sua executiva para anunciar sua decisão final na
quarta-feira.
No
fim da tarde deste domingo, o presidente do partido, Roberto Amaral, abriu
oficialmente o processo de consultas internas.
"Sepultado
nosso líder, o PSB abre o processo de consultas visando à construção de
alternativa política consensual a ser adotada pela sua Executiva Nacional
(...), começando pela companheira Renata Campos (viúva de Campos), a vice
Marina Silva e os partidos que integram a coligação Unidos pelo Brasil",
informa a nota do partido, segundo a Agência Brasil.
Trajetória
Campos,
que tinha 49 anos, estava em terceiro lugar na corrida eleitoral, com cerca de
10% dos votos, de acordo com as pesquisas mais recentes. Estava atrás da
presidente Dilma Rouseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB).
Nascido
em 10 de agosto de 1965 no Recife, Eduardo Henrique Accioly Campos era filho do
poeta Maximiano Campos (1941-1998) e de Ana Arraes, atual ministra do TCU.
Era
economista e o principal herdeiro político de seu avô, Miguel Arraes. Começou
oficialmente na política em 1986, ao trabalhar na campanha de Arraes em sua
segunda campanha ao governo de Pernambuco.
Em
1990, filiou-se ao PSB, pelo qual foi eleito deputado estadual no mesmo ano.
Aos
25 anos, sofreu sua única derrota eleitoral ao terminar em quinto lugar na
disputa pela Prefeitura do Recife.
Em
1994, foi eleito deputado federal com 133 mil votos. Licenciou-se do cargo para
ser secretário do governo Arraes em Pernambuco. Em 1998, foi reeleito deputado
federal com 173,6 mil votos.
Foi
ministro de Ciência e Tecnologia entre 2004 e 2006, durante o primeiro governo
Lula. Era o mais jovem entre os ministros à época.
Presidência
Campos
assumiu a presidência do PSB em 2005 e, no ano seguinte, licenciou-se deste
cargo para concorrer ao governo de Pernambuco.
Foi
eleito com 60% dos votos no segundo turno. Em 2010, foi reeleito com 83% dos
votos no primeiro turno, o maior índice registrado entre todos os governadores
eleitos naquele ano.
O
político estava em campanha para as próximas eleições presidenciais e havia
firmado aliança com a ex-senadora Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, que
seria sua vice-presidente.
Campos
tentava se apresentar como uma nova via da política nacional.
"Se
a gente quer chegar a um novo lugar, a gente não pode ir pelos mesmos
caminhos", disse em sua última entrevista, dada à Rede Globo na
terça-feira.
Mesmo
atrás nas pesquisas, acreditava que cresceria ao se tornar conhecido com o
início da campanha na televisão.
"Minha
eleição vai ser de fenômeno, vai ser de arranque na última hora", disse à
revista Piauí.
Acidente
De
acordo com a Aeronáutica, o jato em que estava Campos saiu do Aeroporto Santos
Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto do Guarujá, em São Paulo.
Quando se preparava para o pouso, por volta das 10h, o avião arremeteu
possivelmente devido ao mau tempo.
Em
seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com a aeronave. A
Aeronáutica já deu início às investigações para apurar o que pode ter
contribuído para o acidente, no qual morreram outras seis pessoas - o fotógrafo
da campanha, um operador de câmera, dois assessores e os dois pilotos.
Campos
era casado com a economista e auditora concursada do Tribunal de Contas do
Estado Renata de Andrade Lima Campos, de 47 anos. Eles começaram a namorar
ainda na adolescência.
Renata
estava com a família em Recife no momento do acidente. Campos deixa cinco
filhos.